Por que é preciso inovar no setor público?

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Esta pesquisa tem como objetivo entender melhor as razões para se inovar no âmbito do setor público. O trabalho se propõe a demonstrar que inovar é resultado de uma mentalidade a ser construída nas organizações, tanto públicas quanto privadas, para resolver problemas e transformar cenários.

Tamires Natalia Brumer Pedrosa,

1. Introdução

A partir de meados do século passado, a ascensão dos Estados de bem estar social culminaram na complexificação do aparelho de Estado, diante do surgimento de demandas não somente de cunho social, mas também de setores como infraestrura, economia. A diversidade e complexidade das demandas condicionaram as funções estatais e as estratégias de atuação dos governos.

A inovação surge como uma saída para a resolução desses desafios, ao ser definida como o processo de geração e implementação de novas ideias com vistas à criação de valor para a sociedade (Comissão Europeia, 2013). Essa crescente complexidade dos problemas e a velocidade das mudanças têm levado as organizações privadas a adotarem uma associação entre inovação e sobrevivência. A mesma fórmula aplica-se ao setor público, ao garantir representatividade para os governos.

Inovar não é uma tarefa fácil. Tradicionalmente, inovar no meio empresarial significava buscar novas soluções tecnológicas. No entanto, nos anos 90 a disseminação de uma filosofia de gestão criada por Deming (1986) que visa o aprimoramento contínuo da qualidade de produtos e processos – fez nascer um novo caminho para a inovação: para inovar era preciso não apenas buscar novas soluções tecnológicas, mas criar novas formas de contato com o cliente e de se posicionar no mercado.

Diante do consenso de que os processos de inovação no setor público tem se intensificado e ganhado um papel estratégico e propulsor da modernização da administração pública, cabe o questionamento: por que inovar? Com base em leituras acadêmicas, bem como experiências governamentais, este artigo aborda as principais razões que justificam o fato de se buscar que a inovação se torne uma política pública prioritária.

2. Inovação e o setor público

Ainda que apenas recentemente a inovação tenha ganhado os holofotes, as abordagens sobre o tema não são inéditas. Schumpeter, a partir da Teoria do Desenvolvimento Econômico (1934), relacionou inovação e desenvolvimento tecnológico. De acordo com o autor, a inovação seria o ato de fazer algo diferente no plano econômico, o que refletiria em novos resultados.

Após Schumpeter, as análises sobre inovação se multiplicaram no setor privado. Entretanto, nos últimos anos, os estudos sobre o tema com foco sobre inovação em serviços públicos cresceram de forma contínua.

Todas as abordagens sobre o tema perpassam a ideia de que inovação representa a descontinuidade com o passado. Isso é o que diferencie a inovação de pequenas mudanças. Enquanto a mudança é o resultado de uma trajetória dentro de um conjunto de agregações, a inovação, que pdoe ser incremental ou disruptiva, encerra um fenômeno de descontinuidade com o passado (Osborne e Brown, 2005).

Inicialmente, no âmbito de governo, a inovação serviria de instrumento para lidar com as situações em que o governo tende a gerar mais problemas que soluções. Modernamente, de maneira mais inclusiva, a noção de inovação deve estar associada a um papel transformador do Estado enquanto impulsionador de inovações (Cavalcante e Cunha, 2017).

Dessa forma, o Estado assume um papel protagonista no âmbito da inovação, ainda que presentes diversos entraves, como o limite de orçamento e a aversão a risco. Boa parte das inovações de larga escala da inciativa privada nos últimos anos foram custeadas e suportadas pelo setor público. Nas grandes descobertas, é o Estado quem assume os maiores riscos com suas agências de pesquisa, universidades, organizações, para criar a tecnologia que passa a ser incorporada. O Vale do Silício não cria as grandes tecnologias; o que ele faz é conectar e melhorar uma tecnologia financiada pelo Estado. Os países mais desenvolvidos do mundo investem em ciência e tecnologia. E várias dessas inovações no começo não são atrativas, porque o custo de implantação é muito alto. Dessa forma, o setor público torna-se essencial (Comissão Europeia, 2013).

A partir da incorporação de práticas inovadoras à máquina pública, é possível melhorar os serviços prestados à população e estimular o desenvolvimento do setor privado e da economia do país como um todo. Há uma infinidade de demandas e transformações sociais, problemas complexos com os quais o governo tem de lidar e que não mais se resolvem com respostas padronizadas. A inovação possibilita um trabalho em conjunto entre os diversos setores do Estado.

3. O que é inovação para o setor público?

Há um entendimento geral de que inovação está associada a grandes disrupturas tecnológicas, sobretudo as oriundas do setor privado. Na verdade, o conceito de inovação perpassa o conceito de uma boa ideia que gera impactos positivos. Se para o setor privado algo positivo é lucro e participação no mercado, para o setor público, o resultado pode ser materializado em serviços públicos de melhor qualidade ou mais econômicos ou em processos na administração pública que são mais difíceis de mensurar, como legitimidade, confiança, pertencimento a uma comunidade. É importante entender que barreiras existem na iniciativa privada e na pública, e é preciso saber como criar culturas de inovação adaptadas a essas realidades distintas (Cavalcante e Cunha, 2017).

A inovação atua para dar novos olhares para esses problemas complexos. Colaboração entre os setores é essencial: é preciso contar com a atuação conjunta das secretarias de estado, da administração indireta e demais órgãos, pois os problemas atuais são multicausais. Juntos, essas instituições vão entender o problema e conseguir criar soluções, inovar no desenho de uma política que vai de fato criar resultados.

4. Como começar: vencendo o desafio de se inovar no setor público

A inovação no setor público pode começar de diferentes formas: seja por meio da estratégia da instituição; por meio de metodologias e processos; ou por ferramentas e tecnologia.

Na parte estratégica, a inovação soluciona desafios institucionais, revendo a forma como o próprio órgão se vê, como é visto pela sociedade e questiona se a instituição está servindo ao seu propósito.

No âmbito de metodologias e processos, a inovação trabalha para vencer desafios operacionais, encontrando melhores formas de se pensar a rotina de trabalho dentro da instituição. Neste sentido, a mudança reflete em uma melhoria interna e aumenta a qualidade dos serviços prestados ao cidadão. Iniciativas de Design Thinking aplicadas ao setor público e Laboratórios de Inovação são exemplos disso.

Quanto às ferramentas e tecnologias para promover inovação no setor público, dispositivos, sistemas e softwares fomentam e fortalecem iniciativas e mudanças que estão em curso. É essencial ter em mente que a inovação não está presente na tecnologia apenas por ela existir dentro de uma instituição. Esta tecnologia precisa ser utilizada para um fim maior, que gere impacto positivo internamente e também na sociedade, para ser considerada inovadora.

Ainda que haja três diferentes frentes, o trabalho de mudar e inovar não é feito de forma isolada. Os processos servem para se chegar aos fins definidos pelas estratégias, bem como ferramentas e tecnologias são instrumento de viabilização e concretização da inovação.

Neste sentido, para que a inovação de fato aconteça no setor público, toda a instituição deve estar integrada para conduzir as mudanças de forma que estas sejam incorporadas à cultura da instituição.

Outro ponto essencial que merece destaque é a comunicação para a inovação. É por meio do diálogo que se expõem os benefícios que iniciativas inovadoras podem trazer. Dessa forma, os órgãos transformam as relações tradicionais em diálogos mais colaborativos, em prol da construir e implementar cada vez mais projetos voltados à pequenas mudanças e atitudes inovadoras, na busca da melhoria contínua para atender os próprios servidores e também os cidadãos (VILVERT, 2017).

5. Considerações Finais

Na esfera privada, o tema inovação é mais discutido com maior abertura pois, neste segmento, é o mercado que impõe às empresas a necessidade de acompanhar o movimento e se reinventar constantemente. Porém, e na esfera pública, se não há concorrência mercadológica, por que encarar o desafio de inovar?

Porque é preciso adotar abordagens não tradicionais para viabilizar as causas fundamentais pelas quais os órgão públicos existem, ou seja, inovar para atender melhor os interesses dos cidadãos e da sociedade, construindo políticas públicas de qualidade, ao mesmo tempo vencendo desafios burocráticos, jurídicos e administrativos.

Para tanto, a inovação não precisa acontecer no setor público como uma grande mudança isolada, desafiadora e impossível de alcançar. Mas sim como um conjunto de pequenas novas práticas instituídas a fim de vencer velhos problemas, acompanhando mudanças sociais, e melhorando a qualidade do serviço prestado.


Fonte: Site administradores.com.br

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